A atividade leiteira, assim como qualquer outro mercado, está sempre em movimento e em evolução. E podemos dizer que, atualmente, a grande evolução no mercado de leite foi na produtividade, capacidade genética e tecnologia.
Como toda ação tem uma reação, isso gerou uma diferença de qualidade do trabalho de quem lida com o gado, no aumento de risco e na necessidade de conhecimento. A maioria dos produtores muitas vezes acabam não sabendo ou não valorizando o potencial dos seus próprios animais, mas ele está lá!
A diferença de uma vaca produzir 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40 litros ou mais, normalmente não está na genética. Como foi dito acima, temos que aprender a nos relacionar com este novo animal, sob pena de não atingirmos um equilíbrio financeiro no negócio.
Os principais desafios atuais na produção de leite
Pelo dia a dia, acompanhando os produtores de leite do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, observamos basicamente três pontos como sendo os seus “Calcanhares de Aquiles” atuais: falta de saúde, falta de eficiência reprodutiva e falta de gestão financeira. Por hora, vamos focar os dois primeiros.
Saúde do Rebanho
A falta de saúde possui graduações, normalmente difíceis de serem percebidas. É o caso das doenças subclínicas. Dentre as mais comuns estão a Hipocalcemia, Cetose, Metrite, Pododermatite e Mastite. São aqueles casos em que aparentemente o rebanho está saudável, mas se formos realizar alguns testes mais específicos, iremos identificá-los.
Estima-se que para cada doença clínica que podemos observar, ou seja, quando uma vaca que realmente cai por hipocalcemia, ou está mancando, ou tem mastite clínica, mais 15 casos estão escondidos, com algum nível de enfermidade, mas os criadores não percebem o fato.
Ineficiência Reprodutiva
Sobre a falta de eficiência reprodutiva, o elemento impactante aí se dá pela sigla DEL, referente a dias em lactação médios do rebanho, ou seja, ao somatório do número de dias que cada vaca está dando leite depois do último parto.
Quanto mais infrutíferas as coberturas e o tempo gasto esperando que o animal fique prenhe, maior será este índice (DEL). A gestação da vaca é de 280 dias, e mesmo com a variação de alguns dias, isso não muda onde temos que ser eficientes: Na redução do tempo entre o parto e a concepção do animal, também chamado de Período Aberto. Só que é neste momento, no início da lactação, onde a maioria daquelas doenças subclínicas acometem o animal.
Ainda sobre DEL, podemos ter o mesmo rebanho com 22 ou 27 litros de média, com as vacas produzindo a mesma coisa e com a mesma dieta em ambos os casos, mas só variando o DEL. Porque no exemplo dos 22 litros, o DEL seria de 240 dias, com o tempo de lactação estendido demais pelas dificuldades reprodutivas somadas de todos os animais.
E no caso do rebanho de 27 litros de média, o DEL seria de 165 dias. Ou seja, uma maior proporção de animais estaria mais próxima do início da lactação ou mais próximos do pico de produção. Sabe-se que a vaca produz 50% da produção nos 100 primeiros dias de lactação.
São várias as formas, tanto de trazer produtividade, quanto de perdê-la na lida com as vacas. Quanto maior o potencial produtivo, maior a dificuldade. O produtor precisa dar atenção à questão dos problemas ocultos e pensar sempre em ferramentas para preveni-los, pois eles são agentes silenciosos que trazem prejuízo econômico ao produtor.
E neste momento, e provavelmente assim será para sempre, onde o custo de produção é tão alto, não podemos nos dar o luxo de perder eficiência nas nossas máquinas produtivas.
Autor: Jorge Cardoso, Médico Veterinário, Especialista em Bovinocultura Leiteira.